André Santa Cruz, Amanda Mesquita Souto e Bruno Camargo Silva
A Lei 13.818/2019 alterou a redação do artigo 289 da 6.404/1976 (Lei das Sociedades por Ações), que trata das publicações das sociedades anônimas. Desde 1º de janeiro de 2022, data da entrada em vigor, houve a exclusão da publicação em Diários Oficiais e a simplificação da publicação em jornais de grande circulação (resumo na versão física e íntegra na versão eletrônica).
Essa mudança teve o objetivo de desburocratizar as publicações das sociedades anônimas, reduzindo o seu custo, mas nunca foi intenção do legislador suprimir a necessidade de publicação em jornal físico: a ideia foi simplificar tal publicação, que passou a ser resumida, mas acompanhada de outra publicação integral, esta em versão eletrônica.
Sempre defendemos que a Lei 13.818/2019 não eliminou a necessidade de publicações em jornais impressos. O que a lei criou foi um mecanismo de simplificação, redução de custos e aumento da transparência, por meio da combinação de uma publicação em meio impresso (versão resumida) com uma publicação em meio eletrônico (versão integral). Assim, se garantiu, de um lado, a almejada redução de custos para as companhias e, de outro lado, a imprescindível difusão da informação para todos os interessados.
Essa interpretação foi a mesma exarada pela Presidência da República e pela Procuradoria-Geral da República nos autos da ADIn 7.011, que questionava a constitucionalidade da Lei 13.818/2019. Em que pese essa ação não ter sido julgada no mérito, visto que a ministra relatora, Cármen Lúcia, negou seguimento à ação em razão da ilegitimidade ativa da parte autora, verificamos que não houve dúvidas, nas manifestações desses entes, sobre a publicação resumida determinada pela nova redação do artigo 289 da LSA ter que ser realizada em jornal impresso.
O Departamento Nacional de Registro Empresarial e Integração (Drei), no Manual de Registro de Sociedade Anônima (Anexo V da IN 81/2020), também consagrou essa interpretação, sempre deixando claro que, quando a LSA menciona “jornal de grande circulação”, está se referindo a um veículo impresso.
Outro argumento que reforça essa interpretação é o seguinte: quando o legislador quis realmente eliminar a necessidade de publicações de sociedades anônimas em meio físico (jornal impresso), ele o fez de maneira muito clara e direta, mas com um recorte bem específico. Referimo-nos à Lei Complementar 182/2021, conhecida como o Marco Legal das Startups, que alterou o artigo 294 da LSA, possibilitando que a companhia fechada com receita bruta anual de até R$ 78 milhões realize as publicações legais totalmente de forma eletrônica.
Constitucionalidade negada
Por fim, no dia 4 de julho de 2024, foi publicado o acórdão do STF no julgamento da ADI 7.194, que julgou improcedente a referida ação para declarar a constitucionalidade do artigo 1º da Lei 13.818/2019, que deu a atual redação ao artigo 289 da LSA.
No referido julgamento, o STF não apenas reconheceu a constitucionalidade da regra que dispensou as sociedades anônimas de publicarem atos societários e demonstrações financeiras em Diários Oficiais, mas também deixou claro que a correta interpretação da atual redação do artigo 289 da LSA é a seguinte: publicação resumida em jornal de grande circulação na sua versão física e publicação integral no portal eletrônico do mesmo jornal. A propósito, confira-se o item 2 da ementa do acórdão:
2. No intuito de se disponibilizarem as informações pertinentes às pessoas e entidades interessadas, embora dispensada a publicação em diário oficial, a norma manteve a obrigatoriedade de divulgação dos atos das sociedades anônimas em jornais de ampla circulação, tanto no formato FÍSICO, de forma resumida, quanto no formato eletrônico, na íntegra.
De acordo com o ministro relator Dias Toffoli, “a divulgação da íntegra dos atos societários na página da internet de jornais de grande circulação é medida que logra atingir grande número de pessoas interessadas e que se mostra acessível para o fim que se propõe. Ademais, a norma mantém a obrigatoriedade de divulgação dos atos societários na mídia impressa, o que contempla a parcela da população que não costuma ou não consegue fazer uso de meios eletrônicos de acesso à informação”.
Vale ressaltar que o referido julgamento do STF se deu em sede de controle abstrato de constitucionalidade, que tem efeito vinculante e erga omnes.
Portanto, sem qualquer espaço para dúvidas, de acordo com a atual redação do artigo 289 da LSA, simplificou-se a regra geral de publicidade legal das companhias brasileiras, adotando-se um sistema híbrido de publicação: resumo em jornal de grande circulação físico e, simultaneamente, íntegra no sítio eletrônico desse mesmo jornal na internet.